INTRODUÇÃO
Os acordes estão submetidos a critérios tonais, portanto, seu uso depende da compreensão dos tons, tanto maiores, quanto menores. Os atuais estudos de harmonia, baseados na harmonia jazzística e em tratados como o de Hugo Riemann, apresentam três funções para análise de acordes: Tônica, Subdominante e Dominante, e partindo destes três conceitos abrem um amplo e complexo campo de estudo. Na literatura musical brasileira atual, dois nomes se destacam: Ian Guest, com seus manuscritos, e Almir Chediak, com Harmina e Improvisação Vol. I e II.
Neste trabalho, apresento um estudo objetivo do uso dos acordes, baseado em duas funções apenas: Tônica e Dominante, que chamaremos de resolução e preparação; para análise das sequências harmônicas diatônicas e das aplicações atonais que as envolvem.
Este estudo é voltado para músicos práticos que buscam uma visão clara e objetiva das aplicações dos acordes nas composições e arranjos musicais.
DUAS FUNÇÕES: RESOLUÇÃO E PREPARAÇÃO
Tônica: é a primeira nota da escala diatônica, e a função do acorde construído a partir dessa nota, segundo os conceitos de harmonia convencionais.
Dominante: é a quinta nota da escala diatônica, e a função acorde do construído a partir dessa nota, segundo os conceitos de harmonia convencionais.
Acordes com três notas (tríades) do tom Dó maior: C Dm Em F G Am Bm(b5)
Acordes com quatro notas (tétrades) do tom Dó maior: C7M Dm7 Em7 F7M G7 Am7 Bm7(b5)
Utilizaremos uma fórmula objetiva de análise dos acordes, considerando apenas dois conceitos de aplicação harmônica: preparação e resolução, substituindo os termos dominante e tônica.
Dos quatorze acordes acima apenas três não exercem função tônica, que chamaremos de resolução: Bm(b5), G7 e Bm7(b5); sendo que o primeiro e o terceiro estão embutidos no segundo acorde (G7), portanto, inicialmente, não trabalharemos com eles (o 1º e o 3º) para facilitar a visualização. Separando os acordes com função de preparação dos acordes com função de resolução, temos:
Acordes que podem exercer a função de resolução: C Dm Em F G Am (tríades) e C7M Dm7 Em7 F7M Am7 (tétrades).
Observe que C e C7M são semelhantes (não idênticos), assim como os demais pares: Dm e Dm7 | Em e Em7 | F e F7M | Am e Am7. Portanto, nestes casos, vamos trabalhar apenas com as tríades para facilitar a visualização.
Acordes que exercem a função de resolução: C Dm Em F G Am
Acorde que exercem a função de preparação: G7 – que prepara o acorde C
Lembre-se que a função do acorde não exerce poder sobre a criação artística musical. O compositor e o arranjador tem liberdade para criar suas progressões harmônicas independentes dos conceitos convencionais de harmonia.
COMBINAÇÕES COM ACORDES DE PREPARAÇÃO E RESOLUÇÃO
Num trecho musical com dois acordes, considerando as funções propostas neste estudo (resolução e preparação), temos a seguintes possibilidades de combinação: resolução e resolução, resolução e preparação, preparação e resolução, e, preparação e preparação. Tomando como modelo o tom Dó maior, temos seis acordes que podem exercer a função de resolução e um acorde para a função de preparação: C, Dm, Em, F, G, Am (função de resolução) e G7 (função de preparação).
Resolução e Resolução: C e Dm | C e Em | C e F | C e G | C e Am || Dm e C | Dm e Em | Dm e F | Dm e G | Dm e Am || Em e C | Em e Dm | Em e F | Em e G | Em e Am || F e C | F e Dm | F e Em | F e G | F e Am || G e C | G e Dm | G e Em | G e F | G e Am || Am e C | Am e Dm | Am e Em | Am e F | Am e G ||
Todos os acordes que podem exercer a função de resolução possuem preparação específica. Segue a nomeação desses acordes e suas preparações: C e G7 (sol c/7ª preparação vista acima), Dm e A7, Em e B7, F e C7, G e D7, Am e E7 (A7, B7, C7, D7, E7 são os novos acordes). Esses novos acordes de preparação possuem notas que não pertencem à escala de Dó maior, portanto, são acordes atonais, e com eles há grande ampliação das possibilidades de criação.
Resolução e Preparação: C e G7 | C e A7 | C e B7 | C e C7 | C e D7 | C e E7 || Dm e G7 | Dm e A7 | Dm e B7 | Dm e C7 | Dm e D7 | Dm e E7 || Em e G7 | Em e A7 | Em e B7 | Em e C7 | Em e D7 | Em e E7 || F e G7 | F e A7 | F e B7 | F e C7 | F e D7 | F e E7 || G e G7 | G e A7 | G e B7 | G e C7 | G e D7 | G e E7 || Am e G7 | Am e A7 | Am e B7 | Am e C7 | Am e D7 | Am e E7 ||
Preparação e Resolução: G7 e C | G7 e Dm | G7 e Em | G7 e F | G7 e G | G7 e Am || A7 e C | A7 e Dm | A7 e Em | A7 e F | A7 e G | A7 e Am || B7 e C | B7 e Dm | B7 e Em | B7 e F | B7 e G | B7 e Am || C7 e C | C7 e Dm | C7 e Em | C7 e F | C7 e G | C7 e Am || D7 e C | D7 e Dm | D7 e Em | D7 e F | D7 e G | D7 e Am || E7 e C | E7 e Dm | E7 e Em | E7 e F | E7 e G | E7 e Am || Nesta série, as combinações mais usadas e com maior sentido lógico, segundo os critérios convencionais relativos aos intervalos dos acordes dominantes (neste estudo chamados de preparação), estão sublinhadas (G7 e C | A7 e Dm | B7 e Em | C7 e F | D7 e G | E7 e Am).
Preparação e Preparação: G7 e C7 | G7 e D7 | G7 e E7 | G7 e A7 | G7 e B7 || A7 e C7 | A7 e D7 | A7 e E7 | A7 e G7 | A7 e B7 || B7 e C7 | B7 e D7 | B7 e E7 | B7 e G7 | B7 e A7 || C7 e D7 | C7 e E7 | C7 e G7 | C7 e A7 | C7 e B7 || D7 e E7 | D7 e G7 | D7 e A7 | D7 e B7 | D7 e C7 || E7 e D7 | E7 e G7 | E7 e A7 | E7 e B7 | E7 e C7 ||
A variedade de combinações acima segue a proposta de um trecho musical com apenas dois acordes, podendo aumentar, ainda muito mais, com a introdução de outros acordes atonais e daqueles acordes que, para facilitar a compreensão e o andamento do presente estudo, extraímos anteriormente (Bmb5, Bm7b5, C7M, Dm7, Em7, F7M e Am7).
COMO IDENTIFICAR OS ACORDES NAS SEQUÊNCIAS HARMÔNICAS TONAIS
Tomando como modelo as tríades e tétrades da escala de Dó maior, pode-se analisar os acorde como R ou P (Resolução ou Preparação).
Tríades: C Dm Em F G Am Bmb5 || Tétrades: C7M Dm7 Em7 F7M G7 Am7 Bm7b5
R: C, Dm, Em, F, G, Am, C7M, Dm7, Em7, F7M e Am7
P: Bmb5, G7 e Bm7b5
CARACTERÍSTICAS DOS ACORDES DE PREPARAÇÃO
Os acordes que exercem função de preparação possuem estrutura em tétrade com a terça maior e a sétima menor, além das possibilidades de acréscimos dos intervalos de nona (9, b9 e #9), décima primeira (#11) e décima terceira (13 e b13). Exemplos: C7(9), C7(b9), C7(#9), C7(#11), C7(13), C7(b13), e ainda, C7(9/13), C7(9/#11), etc.
CARACTERÍSTICAS DOS ACORDES DE RESOLUÇÃO
Os acordes que exercem função de resolução podem se apresentar em tríade ou tétrade, maiores ou menores, ambos com quinta justa (C e Cm). Os acordes em tétrades maiores possuem sétimas maiores (C7M), e acordes em tétrades menores possuem sétimas menores (Cm7).
Os acordes maiores e menores podem receber o intervalo de nona maior (C9, Cadd9, Cm9, C7M(9) e Cm7(9). Os acordes menores podem ser acrescidos de décima primeira (Cm11 e Cm7(11)) e os acordes maiores podem receber o intervalo de sexta maior (C6 e C6(7M)).
CARACTERÍSTICAS COMUNS EM PREPARAÇÃO E RESOLUÇÃO
Acordes de preparação e resolução têm em comum a possibilidade de apresentação em estado fundamental ou inversões, acrescidas de nona maior, com omissões ou duplicações de notas; e ainda, com apresentações mistas.
Juarez parabéns!
Que bom mais uma postagem sua, é pena que que meu tempo é pouco e ainda não pude dedicar-me nos estudos de violão. Não sei partitura e até tenho livros de Almir Chediak e ele se destina também a quem não conhece partitura. O de IAN GUEST, se destina apenas a quem tem conhecimento de partitura. Tenho mais nunca pude utilizá-lo.
Obrigado, Valcirlan.
Estou elaborando este estudo com o objetivo de tirar a complexidade para aqueles que querem estudar o uso dos acordes. Os estudos de harmonia, quase sempre, criam uma expectativa ilusória de que se vai alcançar um conhecimento extraordinário, ou de alto grau de intelectualidade; procuro não gerar essa expectativa nos alunos. Na prática, a aplicação da harmonia é simples.
Forte abraço.
Juarez, bom dia.
Me explica uma coisa rapidinho aqui? Vejo muitas composições que utilizam de acordes a 6º, 7º, diminutas, aumentadas e por ai vai. Se tratando de campo harmônico, quando e como utilizar isso de forma eficaz?
Bom dia, Adalberto.
1º “Muitas composições”: parte delas se utilizam destes intervalos nos acordes porque fazem parte do contexto real da composição, porém, em outras, apenas receberam alguns desses intervalos para não dar a clara percepção de sua ingenuidade. Por exemplo: uma parte de uma canção composta com quatro acordes – C Am Dm G – o autor muda um pouquinho para tirar a impressão de simplicidade, então ele faz: C Am7 Dm G7 ou C6 Am Dm7 G7, etc.
2º Tratando-se de campo harmônico: uma composição pode ser feita para atender uma poesia, partindo então para a melodia ou harmonia, todavia, ambas estarão entrelaçadas. Vamos supor que se tenha feito a melodia primeiro e precise de uma harmonia para completá-la, neste caso será necessário observar as notas da melodia dentro de cada compasso para escolher os acordes que envolvam esse conjunto de notas, seja tríade, tétrade, acordes com extensão, invertidos; será, sobretudo, uma questão de escolha, gosto, ou ainda, exploração técnica, onde o autor quer se utilizar do aconhecimento das possibilidades para apresentar uma composição rica, antes de tudo.
Espero que tenha ajudado.
Forte abraço!
Obrigado Juarez! Na verdade ajudou sim, por que me mostra que eu posso “brincar” com esses intervalos dentro de qualquer arranjo de qualquer música, desde que eu respeite a harmonia, correto? Eu sou aspirante a músico, toco muita coisa na base do “decorômetro” mas estou começando a brincar a medida que aprendo. Na verdade, graças a isso chegou o convite para me apresentar em público e você está me ajudando muito. Estou começando a improvisar solos no violão e suas aulas são bem claras.
Espero que não se importe de receber mais perguntas ao decorrer dos próximos dias. Um forte abraço e muito obrigado mesmo.
Isso mesmo, “brincar com os intervalos”. É sempre um prazer receber perguntas, e maior ainda, respondê-las.
Sucesso na tua apresentação.
Forte abraço!
Parabéns muito bem explicado consegui absorver uma boa aplicação muito obrigado material top
Obrigado, Wagno.
Bons estudos.
Forte abraço.