1º tipo de bens
Glauco — Não te parece que existe uma espécie de bens que buscamos não objetivando as suas consequências, mas porque os amamos em si mesmos, como a alegria e os prazeres inofensivos, que, por isso mesmo, não têm outro efeito que não seja o deleite daquele que os possui?
Sócrates — Sim, acredito sinceramente que existem bens dessa espécie.
2º tipo de bens
Glauco — E não existem bens que amamos por si mesmos e também por suas consequências, como o bom senso, a visão, a saúde? Com efeito, tais bens nos são preciosos por ambos os motivos.
Sócrates — Sim.
3º tipo de bens
Glauco — Mas não vês uma terceira espécie de bens como a ginástica, a cura de uma doença, o exercício da arte médica ou de outra profissão lucrativa? Poderíamos dizer destes bens que exigem boa vontade; nós os buscamos não por eles mesmos, mas pelas recompensas e as outras vantagens que proporcionam.
Sócrates — Concordo que essa terceira espécie existe. Mas aonde queres chegar?
Glauco — Em qual dessas espécies tu colocas a justiça?
O melhor dos bens, segundo Sócrates
Sócrates — Na mais bela, creio, na dos bens que, por si mesmos e por suas consequências (2º tipo), deve amar aquele que quer ser plenamente feliz.
O melhor dos bens, na opinião da maioria dos homens
Glauco — Não é a opinião da maioria dos homens, que põem a justiça no nível dos bens penosos que é preciso cultivar pelas recompensas e distinções que proporcionam (3º tipo), mas que devem ser evitados por eles mesmos, porque são difíceis.
Sócrates — Eu sei que é essa a opinião da maioria. E por isso que, desde há muito, Trasímaco censura esses bens e elogia injustiça. Mas, segundo parece, eu tenho a cabeça dura.