A utilidade da linguagem musical hoje e a necessidade de o Professor de Música dominá-la

INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje a linguagem musical encontra grande dificuldade no emprego, tanto do aprendizado, quando da execução. A pressa em aprender a tocar um instrumento musical para atender as mais diversas necessidades acaba gerando no professor, acadêmico ou não, uma preocupação em atender esse aluno. Então, o ensino da técnica do instrumento para emprego da harmonia e do ritmo, dá-se sem a utilização da música escrita, mas por meio de explicações verbais, linguagem das cifras alfanuméricas e imitação por audição.

A grande gama de músicos produtores independentes e os estúdios de gravação abertos para atender uma clientela produtora de canções com diversos objetivos, também não faz uso da música escrita, por não dominarem a linguagem ou por não disporem de tempo para edição das partituras, embora os editores digitais facilitem muito.

As fanfarras escolares também seguem por esse mesmo caminho de pressa e desprezo à linguagem musical propriamente dita, limitando-se à prática rítmica percussiva e às melodias simples, ambas decorados por imitação, salvo exceções.

A UTILIDADE DA LINGUAGEM MUSICAL HOJE

Em todos os exemplos citados acima, a linguagem musical seria muito enriquecedora, portanto, de grande utilidade. Por exemplo, muitos detalhes poderiam ser anotados possibilitando a ampliação e aprimoramento do arranjo, as alterações feitas durante os ensaios poderiam ser mais facilmente anotadas dentro da própria linguagem musical, etc..

Em muitos casos, todavia, há necessidade real de utilização da escrita musical, pois sem ela ficaria muito difícil a prática dos ensaios, devido ao tamanho da composição ou ao número de integrantes envolvidos na interpretação.

É possível destacar alguns autores contemporâneos de obras musicais com grande foco no ensino da linguagem musical. Um ótimo exemplo é a série “O Melhor da Música Popular Brasileira”, publicado pela Irmãos Vitale Editores em meados do século XX, em dez volumes, com total de 1.000 músicas. Essa maravilhosa obra do Professor Mário Mascarenhas utiliza o sistema de cifragem alfanumérica sobre a letra das canções, porém, o maior destaque é para os arranjos em pauta musical para piano. Destacam-se também, ainda no final do século XX, os SongBook’s de Almir Chediak, que são excelentes fontes de pesquisa da harmonia utilizada pelos compositores da música popular brasileira, apresentando as cifras e os diagramas de acordes para violão, mas também com registro das melodias em pauta musical.

São de fácil acesso, os diversos livros oferecidos nas livrarias brasileiras voltados para a linguagem musical, inclusive com preços razoáveis, tanto dos conceitos teóricos, quanto da linguagem prática para instrumentos musicais diversos. Um exemplo de grande resistência à tendencia do uso exclusivo das cifras, é o Método Matteo Carcassi – Opus 59, voltado para leitura musical e arranjos em pauta sem uso das cifras alfanuméricas.

A REAL NECESSIDADE DE O PROFESSOR DE MÚSICA CONHECER A LINGUAGEM MUSICAL

O conhecimento e uso da linguagem musical, por parte do professor de música, é fundamental em todos os níveis de ensino. Em termos teóricos, a necessidade de compreender e explicar música é extremamente importante, tanto para aprimoramento pessoal do professor, quanto para atender às demandas oriundas dos próprios alunos em suas perguntas e indagações. Do ponto de vista prático, ela possibilita melhor compreensão e organização do conteúdo aplicado, além de proporcionar um amplo leque de possibilidades de exercícios que, com o instrumento em mãos, não seriam possíveis. Exercícios esses, que serão fundamentais na percepção do ritmo, dos valores de tempo, do domínio da coordenação motora, da compreensão e assimilação dos intervalos escalares, e, portanto, de uma preparação maior para execução prática de seu instrumento de preferência em simultaneidade com seus estudos práticos.

O conhecimento e prática da linguagem musical proporciona ao professor uma grande variedade de exercícios e jogos musicais que lhe possibilita aplicar o conhecimento e a prática musical, mesmo para alunos que não possuem ou não se dedicam a nenhum instrumento musical. Além disso, esse conhecimento da linguagem musical pode ser aplicado dentro do avanço tecnológico digital, utilizando software e aplicativos para computadores e celulares, que auxiliam o aluno no seu cotidiano permitindo-lhe maior familiarização com a linguagem musical. Correia descreve mais sobre o assunto:

A linguagem musical no processo de ensino apresenta-se como instrumental metodológico e pedagógico de significativa relevância, pois além de todas as vantagens já colocadas, traz inerente a sua natureza e caráter, a interdisciplinaridade com a qual se dinamiza todo o processo de ensino-aprendizagem. Sem levar em conta que ela não busca com insistência a aplicação de maneiras, prescritivas e pré-estruturadas, na disseminação dos conteúdos a serem trabalhados. (Correia, 2010, p. 139-140).

Na imagem abaixo, temos um trecho musical contendo notas com alturas e durações diferentes, sinais de intensidade, pausas e indicação de timbre. Utilizando a semínima como figura de unidade de tempo, em dez compassos binários simples:

Melodia em dez compassos

CONCLUSÃO

Portanto, o conhecimento da linguagem musical e sua aplicação são de extrema importância nos dias atuais, tanto para a prática da produção musical voltada para a audição de públicos diversos, quanto para a prática do Ensino de Música. Isso, em todos ambientes onde se possam ensinar Música, sejam eles acadêmicos, ou não, voltados para o cancioneiro popular, ou para os eruditos clássicos do pós Idade Média. Esse conhecimento é importantíssimo, não somente quando se tem o interesse ou necessidade de um conhecimento teórico musical específico mais aprofundado, mas também, onde a prática musical se dá de forma híbrida. E, assim, esse formato musical incompleto se aperfeiçoará, oferecendo à sociedade uma música completa e rica em todos os seus aspectos.

REFERÊNCIA

CARCASSE, M. Método de Violão Carcassi: Opus 59, Irmãos Vitale Editores.

CORREIA, M. A. A função didático-pedagógica da linguagem musical: uma possibilidade na educação. Educar, Curitiba, n. 36, p. 127-145, 2010. Editora UFPR. Visitado em 06/10/2017. Disponível em:www.scielo.br/pdf/er/n36/a10n36.pdf

GONÇALVES, L.S. Percepção, Notação e Linguagem Musical. Batatais: Claretiano, 2015. Conteúdos Introdutórios.

MASCARENHAS, M. O Melhor da Música Popular Brasileira. Irmãos Vitale Editores.

URIARTE, M. Z. O papel e a importância da Educação Musical na escola regular brasileira. Visitado em 06/09/2017. Disponível em:www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais3/monica_uriarte.pdf

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