Introdução
Existem muitas maneiras de se trabalhar com música, e há também, um enorme abismo entre as diferenças de rendas possíveis. Essas duas características são comuns em muitas outras profissões, das mais diversas áreas. É assim com os médicos, os advogados, dentistas, publicitários, atletas, empresários, etc. Neste trabalho quero apresentar para o iniciante em música, alguns caminhos possíveis para se realizar seu sonho de viver de música. Está direcionado também para pais de adolescentes e jovens aspirantes, no sentido de colaborar na orientação destes para que seus sonhos não se transformem numa obsessão utópica, ou numa decepção frustrante. Para realizar este trabalho, não posso me basear apenas em experiências pessoais, desta forma ele seria limitado e egoísta, mas me apoiei nas experiências de colegas que se envolveram com a música no meu tempo, pessoas com as quais eu tive algum convívio, ou mesmo um breve contato. Secundariamente, terei que recorrer a exemplos de músicos famosos para que o trabalho seja completo em sua proposta, afinal, a fama e a riqueza também fazem parte dos sonhos musicais de muitas pessoas.
O sonho de uma banda
Há vinte anos atrás, alguns amigos ensaiavam com suas bandas num projeto de sucesso que que se desfez junto com as bandas. A ideia era comum em qualquer época, montar um repertório próprio e buscar os meios para divulgar, que passava por encontrar uma gravadora que acreditasse, ou gravar um disco e divulgá-lo em eventos. Duas coisas muito difíceis de se fazer, principalmente para pessoas que estão acostumadas com a calmaria do interior. Por isso, as gravadoras não conheciam os projetos, e os eventos eram poucos e frustrantes, em termos de público. Algumas bandas, principalmente de pagode, conseguiam algum destaque regional, e apresentavam alguma organização, ao ponto de comprarem veículos para transporte pago com dinheiro de eventos e contratos com bares e casas noturnas. Mesmo assim não houvia continuidade no trabalho, por diversos motivos: desentendimento entre os integrantes, frustração por não conseguir o estrelato, mesmo estando aparentemente no caminho certo, problemas pessoais envolvendo familiares, problemas com alcoolismo, enfim, tropeçavam nas dificuldades criadas por eles mesmos.
O sonho gospel
Paralelamente havia um grupo de bandas, cantores e cantoras solistas que acreditavam no foco gospel, participando de festivais, cantando em igrejas, investindo em gravações; sonhando igualmente com os estrelato, embora, camuflado na religiosidade. Nessa busca, muitos gastaram dinheiro e tempo, sem retorno; talvez se possa dizer que a experiência tenha valido a pena, e tenha sido agradável do ponto de vista religioso. Posso afirmar que eles lutaram muito para realizar seus sonhos, porém, tiveram que desistir deles, ou redirecioná-los. As dificuldades maiores eram: conquistar o favor das gravadoras, conseguir recurso para investir em gravações, e a pior delas, investir recurso próprio e não conseguir vender seus produtos na medida necessária para cobrir custos e recuperar o capital investido. A questão não estava no campo da fé, pois eles a tinham, e foi por terem fé que fizeram tantas coisas. Creio que Deus os abençoou dando a eles novos rumos, não lhes permitindo se tornarem pessoas frustradas, mas felizes por terem tentado.
Voz e violão em bares
Havia ainda uma terceira categoria de sonhadores que buscavam nos bares um espaço para apresentar um repertório apropriado ao estilo do bar, ou da pizzaria, ou churrascaria, cervejaria; vários nomes para fins musicais comuns, ou seja, voz e violão, ou ainda, voz violão e percussão, um ou dois músicos para dividir um cachê pequeno. Esse, talvez seja o método mais procurado por quem quer ingressar na carreira musical. Muitos cantores e músicos famosos, inclusive internacionalmente, começaram cantando e tocando em bares.
Orquestras instrumentais
Outra categoria de músicos que buscava um espaço era a dos instrumentistas de sopro iniciados, principalmente, na Igreja Assembleia de Deus, e aperfeiçoados em orquestra municipais com características, recursos e objetivos bem definidos. Essas orquestras aproveitavam os talentos musical existentes, aperfeiçoava esses músicos e os remuneravam. Elas fizeram muitas apresentações acompanhando cantores brasileiros renomados que vieram à região para participar de projetos em parceria. Posso afirmar que nessas orquestras muitos músicos desta região Sul-fluminense encontraram um espaço confiável e rentável para se expressarem artisticamente. A renda deles era pequena, mas lhes permitia ter família com dignidade, casa e transporte próprios. Alguns aproveitavam bem o longo tempo livre que tinham para gerar outras fontes de renda e estudar. Nesse seguimento, alguns conseguiram progredir e trabalhar integralmente com música, alcançando rendas acima da média regional. Outras orquestras bem organizadas estruturalmente existiam com caráter de voluntariado, ou seja, o músico não era remunerado, e conquistavam uma certa tradição municipal ao ponto de receber incentivos para aquisição de instrumentos, manutenção, porém o músico continuava como voluntário. Obviamente, o envolvimento com a boa música é enriquecedor, mesmo sem remuneração, porém, não é sobre esse aspecto que estamos tratando neste trabalho, mas sim, da música como fonte de renda.
Bandas de bailes
Esse segmento era aparentemente muito bom, tinham muitos bailes em diversos clubes da região, e algumas bandas faziam muito sucesso. Elas eram comentadas por sua capacidade de executarem músicas com muito aproximação da versão original, em diversos ritmos, por cantarem músicas internacionais, elas eram realmente boas bandas de bailes. Do ponto de vista financeiro, eram rentáveis, tanto que algumas existem há mais de vinte anos, porém, essa rentabilidade era muito favorável aos proprietários, que quase sempre tinham nomes artísticos que davam nomes às bandas e exerciam a função de empresários delas, negociando diretamente com o contratante e contratando músicos para as integrarem.
Aulas de violão e guitarra
Ganhar a vida como professor de instrumento musical pode ser uma boa alternativa para quem sonha “viver de música”. Existe um amplo leque de possibilidades dentro dessa área, o que permite ao músico fazer algumas experimentações sem mudar muito o foco. Sem dúvida, o violão é o instrumento mais procurado para aulas, muito mais que a guitarra elétrica, por isso, muitos músicos especializados em outros instrumentos aprendem a tocar violão para atender esse público. É possível ter uma renda satisfatória nesse ofício e trabalhar exclusivamente com ele, porém, a maioria desses profissionais tem outras atividades, primárias ou secundárias, sejam elas musicais ou não. Por exemplo, alguns dão aulas e tocam em bandas, outros dão aulas e trabalham em indústria, ou comércio, etc. Existem algumas fontes de trabalho para essa categoria de músicos: aulas particulares em sua própria residência, na residência do aluno, em instituições como igrejas e associações de moradores, em escolas de música. Além disso, o professor pode ser contratado por órgãos governamentais como secretarias de cultura, de educação, e ainda, por escolas de música e ONG’s subsidiadas por órgãos públicos. Alguns músicos professores são contratados, dão aulas particulares, e ainda têm uma terceira fonte de renda, musical ou não.
O canto
O canto merece um cuidado especial, pois é por meio dele que surgem os maiores sonhos relacionados à música, e, consequentemente, as maiores frustrações, entretanto, é por maio dele que muitos conseguem grande acensão financeira, tanto quanto, fama e sucesso. As aulas de canto se estabelecem basicamente em escolas de música e igrejas, porém, muitos professores oferecem aulas particulares em suas residências. Há também os corais financiados por órgãos públicos ou privados, como os de terceira idade, os infantis e outros, que contratam o profissional de canto para ensinar e ensaiar. Atualmente, muitos membros de igrejas estão ingressando em aulas de canto buscando melhorar a afinação vocal para cantar nos grupos de suas igrejas, tornando as aulas particulares uma boa alternativa para os profissionais dessa área.
Faculdade de Música
A mãe de uma aluna de violão me disse há alguns anos com certa empolgação: – Minha filha quer cursar faculdade de música, eu disse a ela que será muito bom, mas acho que ela deve fazer outra faculdade antes. Qual a tua opinião, Tio Juarez? Então, eu disse à aluna: – Alegro-me muito por você gostar tanto de música, mas, penso da mesma forma.
Muitas pessoas ingressaram em faculdades de música na esperança de que, em 2011, as escolas voltassem a ter aulas de música em suas grades curriculares, todavia, isso não aconteceu. Conheço alguns músicos que se formaram em licenciatura em música, mas esses mesmos não estão trabalhando em escolas, ou em qualquer outro segmento do ensino da música fazendo uso de seu diploma. Existem exceções, por exemplo: conheço um músico multi-instrumentista que, ainda jovem, se formou por uma universidade federal carioca e conseguiu seguir carreira utilizando, de fato, sua formação acadêmica. Esse mesmo músico já trabalhava com música antes de se formar, e possuía muita experiência e técnica.
As escolas inserem a música em seu contexto de várias maneiras, mas não há nada nelas que seja atraente para o músico, do ponto de vista profissional. O que existe nas escolas funcionando bem são as fanfarras, mas as secretarias de educação não exigem faculdade de música para se trabalhar nelas como músico instrutor. A remuneração é baixa, mas a carga horária é pequena, o que permite ao músico ter mais de um contrato, ou até mesmo, trabalhar em outras áreas da música.
Cursar música em faculdade, pode ser muito bom, mas é preciso ter um objetivo específico muito bem elaborado, e, como na maioria dos casos, estar disposto a mudar-se de cidade, ou estado, e, em casos mais extremos, mudar-se de país. Isso para alcançar o objetivo traçado, doutra forma, ela poderá valer tanto quanto, um curso livre.