Este é um resumo biográfico de alguns dos mais importantes instrumentistas nacionais que elevaram a técnica de tocar o pandeiro tipicamente brasileiro, dos quais, alguns são também compositores e cantores.
João da Bahiana (1887-1974): João Machado Guedes, compositor popular, cantor, passista e instrumentista carioca brasileiro. Participou da famosa gravação organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio “Uruguai” em 1940, para o disco “Native Brazilian Music“, do maestro Leopold Stokowski, com sua música “Ke-ke-re-ké“.
Russo do Pandeiro (1913-1945): Antônio Cardoso Martins, instrumentista e compositor. Nasceu em São Paulo, SP, Mudou-se com a família para o Rio aos três anos, passando a infância na Rua Santana, perto do Café Jeremias, reduto de boêmios. Em 1936, foi para Buenos Aires, Argentina, fazer uma temporada na Radio El Mundo com Benedito Lacerda, Francisco Alves e Alzirinha Camargo. Entre 1937 e 1938, apresentou-se com Carmen Miranda no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro.
Indicado por Carmen Miranda, ele foi contratado para tocar em New York, EUA, durante nove meses. A partir de 1947, participou de vários filmes em Hollywood, um deles foi Copacabana, ao lado de Carmen Miranda. Fazendo sucesso nos EUA, fundou uma orquestra, Russo and the Samba Kings, apresentando-se em quase todos os Estados norte-americanos. Voltando ao Brasil em 1950, tornou-se funcionário público, encerrando a carreira musical.
Jackson do Pandeiro (1919-1982): José Gomes Filho, nascido em Alagoa Grande, Paraíba, foi grande destaque como cantor e compositor de forró, samba e dos subgêneros: baião, xote, xaxado, coco, arrasta pé, quadrilha, marcha, frevo, dentre outros. Também conhecido como O Rei do Ritmo. Somente em 1953, já com trinta e cinco anos, Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso: “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti. Logo depois, emplacou outro grande hit: “Forró em Limoeiro”, rojão composto por Edgar Ferreira. Sua discografia compreende mais de 30 álbuns lançados no formato LP. Desde sua primeira gravação, “Forró em Limoeiro”, em 1953, até o último álbum, “Isso é que é Forró!”, de 1981, foram 29 anos de carreira artística, tendo passado por inúmeras gravadoras.
Mestre Marçal (1930-1994): Nilton Delfino Marçal foi diretor de bateria e cantor brasileiro. Filho do consagrado compositor Armando Marçal, que fez músicas com Alcebíades Barcellos, o “Bide”. Durante muitos anos Maçal foi diretor de bateria da GRES Portela, alguns de seus discos tinham a temática das Escolas de Samba, como A Fantástica Bateria de Mestre Marçal, e seu último trabalho, Sambas-Enredo de Todos os Tempos. Também atuou como comentarista dos desfiles de Escolas de Samba, pela Rede Manchete.
Jorginho do Pandeiro (1930): Pandeirista. Nasceu numa família de músicos e, aos sete anos, já tocava ao lado do pai, o violonista Caetano José da Silva. Expressivo representante do choro carioca iniciou sua trajetória musical aos 14 anos, na Rádio Tamoio, onde se apresentou no conjunto de Ademar Nunes. Ressalta como um dos pontos mais altos de sua carreira os trabalhos feitos ao lado de Jacob do Bandolim. Trabalhou com o conjunto Época de Ouro e nas rádios Nacional e Mayrink Veiga, além de realizar produção de discos de artistas como Sílvio Caldas, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Chico Buarque e Marisa Monte.
Bira Presidente (1937): Ubirajara Félix do Nascimento, cantor, compositor, percussionista e pandeirista. Como pandeirista, acompanhou vários artistas da MPB, entre eles Nara Leão, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Alcione e Paulo Moura. Com este último, participou de um festival de jazz na Alemanha. Trabalhou em shows e estúdios com Emílio Santiago, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Gonzaguinha e grupos novos como Katinguelê, Belo, Soweto, Kiloucura e Dudu Nobre. Em 1980, gravou o primeiro disco do grupo Fundo de Quintal, o primeiro de uma longa série, com o qual vem se apresentando por mais de 20 anos em turnês nacionais e internacionais.
Airto Moreira (1941): Airto Guimorvan Moreira, natural de Itaiópolis, Santa Catarina, é baterista, percussionista e compositor brasileiro. Estudou canto, piano, violino, bandolim e teoria musical. Em 1962 integrou o Sambalanço Trio, juntamente com César Camargo Mariano e Humberto Cláiber, entre 1966 a 1969 integrou o Quarteto Novo com Theo de Barros, Heraldo do Monte e Hermeto Pascoal, e no fim dos anos 1960 mudou-se para os Estados Unidos. Lá participou da gravação do álbum Bitches Brew de Miles Davis na faixa “Feio” que o definitivamente colocou no cenário da música internacional. Junto de sua esposa, a cantora Flora Purim, o mesmo gravou vários álbuns e co-produziu diversos de seus trabalhos.
Em agosto de 1981, no 29º Annual International Jazz Critics Poll, da revista “Down Beat”, Airto era escolhido o percussionista do ano na opinião de 55 críticos de jazz de todo o mundo. E em 1992, o trabalho de equipe “Planet Drum” representou o trabalho vencedor do Grammy : o álbum, lançado nos Estados Unidos por uma pequena etiqueta chamada The World/Ryko, teve como líder o também percussionista Mickey Hart, e foi concebido e desenvolvido com intensa participação de Airto Moreira e sua esposa, a cantora e compositora Flora Purim.
Carlinhos Pandeiro de Ouro (1943): Carlos de Oliveira chamou a atenção do cantor da Mangueira, Jamelão, que o convidou para se tornar membro da escola. Em 1958 Carlinhos começou a tocar profissionalmente se estabelecendo como um músico de estúdio, ele apareceu na televisão e no rádio no final dos anos 60 e início dos 70, e depois tocou com grandes músicos norte-americanos. Ele excursionou com Martinho da Vila, Beth Carvalho, Maria Bethânia e Sergio Mendes. Sua carreira como percussionista o levou em turnês pela Europa, Américas, Austrália, Ásia e África. Nos anos 80, ele se mudou para o Havaí e, em 2002, mudou-se para Los Angeles e tornou-se um percussionista atuante no circuito San Francisco – San Diego.
Nereu (1945): de São José, RJ o músico cantor e percussionista é figura representativa no movimento samba-rock, um dos fundadores do lendário Trio Mocotó. A carreira deslanchou quando o trio acompanhou Jorge Ben, com o grande sucesso da apresentação de “Charles Anjo 45”, no IV Festival Internacional da Canção, da TV Globo (RJ), em 1969.
Beto Cazes (1955): Iniciou sua carreira em 1976 com o grupo Coisas Nossas tocando em shows de Aracy de Almeida e Eduardo Dusek, dentre outros. Sob a liderança do maestro Radamés Gnattali, integrou a Camerata Carioca 1980 a 1985 e realizou diversas turnês ao lado de Nara Leão e Elizeth Cardoso, participando também de gravações de discos de outros artistas, gravou os discos “Vivaldi e Pixinguinha”, 1980, e Tocar, 1983. Em 1998 se tornou integrante do conjunto Nó em Pingo D’Água e se apresentou na Holanda, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França e Estados Unidos. Trabalhou também com a Orquestra de Cordas Brasileiras fazendo concertos por todo o Brasil. No ano de 1996, realizou turnê com Wagner Tiso, Vitor Biglione e a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí de São Paulo. Ao longo dos anos, participou de gravações ao lado de Caetano Veloso, Martinho da Vila, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gal Costa, Maria Bethânia, dentre outros.
Celsinho Silva (1957): é um percursionista de carreira internacional e que tem no pandeiro sua maior expressão. Iniciou sua carreira em 1976 no conjunto de choro Os Carioquinhas, filho de Jorginho do Pandeiro e sobrinho de Dino 7 Cordas. É fundador e integrante do grupo Nó Em Pingo D’Água de 1978, em 1979 fundou o conjunto Camerata Carioca juntamente com Radamés Ignattali e Joel do Nascimento, e tocou com grandes nomes da música brasileira destacando-se com Paulinho da Viola por integrar sua banda desde 1980.
Guello (1960): Luis Carlos Xavier Guello começou a sua carreira de percussão com Osvaldinho da Cuíca. Durante a década de 80, ele formou o Grupo Livre Percussão, pesquisando e compondo peças baseadas em ritmos brasileiros. Ele gravou com alguns dos maiores artistas brasileiros, como Zizi Possi, Paulo Moura, Joyce, Marco Pereira, Badi Assad, Edson Cordeiro, Antônio Nóbrega e Sá e Guarabira. Ele foi membro da Banda Sossega-Leão e o lendário Mexe-com-Tudo, uma banda que eletrizou noites de São Paulo por mais de uma década. Atualmente, ele é membro da Orquestra Popular de Câmara, Banda Mantiqueira, André Mehmari Trio e Trio Bonsai.
Marcos Suzano (1963): Começou tocando surdo e cuíca e fixou-se no pandeiro depois de assistir a um programa com Jorginho do Pandeiro, do conjunto Época de Ouro. Frequentou a casa de Hermeto Pascoal e de Radamés Gnattali e estudou ritmos africanos num grupo com Paulo Moura, depois tocou com Zizi Possi, Água de Moringa, Marisa Monte, Zé Kéti,Gilberto Gil, Lenine dentre outros. Desenvolveu técnicas para pandeiro e ás difundiu em cursos e oficinas, tendo como conceito técnico diferenciado o tomar como tempo forte a batida das pontas dos dedos contra a pele do pandeiro, e não pelo polegar, como é comum. Ele afirma que essa técnica facilita a realização de ritmos fora do padrão do pandeiro.
BIBLIOGRAFIA
som13.com.br / Dicionário Cravo Albin / Wikipédia / ww.carlinhospandeirodeouro.com
palcoprincipal.sapo.pt / tocandopandeiro.wordpress.com / celsinhosilva.com.br / ww.pandeiro.com
Revista Música Hodie, Goiânia – V.12, 302p., n.2, 2012 GIANESELLA, E. F. O Uso Idiomático dos Instrumentos de Percussão Brasileiros: principais sistemas notacionais para o pandeiro brasileiro.